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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Dia das Merendeiras


Na Capital Paulista...

Merendeiras podem perder o emprego

Para que terceirizar? O Estado vai gastar mais, e a relação entre funcionário e escola será muito mais fria. Nós somos aqui do bairro, conhecemos todo mundo. Quando a escola precisa da gente em uma força-tarefa estamos aqui - protestou Silvana.
Entenda a terceirização
Lá o contrato das serventes é por meio da Associação de Pais e Professores (APP). O governo repassa verba para a APP, que paga os funcionários
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) identificou essa forma de contratação como irregular, porque caracteriza como terceirização. Nesse caso, teria de haver uma licitação para escolha de uma empresa
O TCE ordenou que a situação se regularizasse em 2004. O prazo foi estendido, por enquanto, até fim de 2008
A Secretaria de Educação estuda a terceirização (contratação de empresa especializada), o que, para o Sinte, acarretaria em mais demissões. Uma alternativa seria um concurso público
Lá a função de merendeira existe em todas as escolas, mas elas são contratadas como Servente 2

Em nossa cidade ( Santo andré )temos um compreenção diferente. A cozinheira, cozinha, é claro. A Merendeira, serve a merenda. Claro que há alguns dos alimentos que confeccionamos, mas, manipulamos alimentos pre-cozidos, desidratados ou enlatados. Não temos autonomia pra manipular a nosso gosto ou desgosto o que é servido as nossas crianças. Há sempre uma profissional que é responsável por confecção do cardápio e manipilação de alimentos.
Fora esse aspecto meramente profissional, quero salientar um trabalho que também é educativo e que, invisibilizado, sem reconhecimento, em meio a condições tão adversas em que é desenvolvido, resiste teimosamente com toda a astúcia de que possa-se recorrer, para satisfazer, comunidade, direção da Escola, funcionários,alunos, nutricionistas,empresa responsável (CRAISA), Deus e o Diabo sempre de plantão.

Vejamos como se processa nosso cotidiano em Creches, Emeis e EPGs:
Pressão de tempo e ritmo acelerado estão intimamente relacionados, uma vez que a escassez de funcionários acarreta o excesso de trabalho, sobretudo se levarmos em conta que, nas cozinhas, as atividades estão singularmente demarcadas pelo tempo. Os horários ( Em Creches e EMEIs) de desjejum, e lanche e almoço (Creches) são rígidos, porque um atraso interferiria no processo de trabalho do professor na sala de aula. Isso nos leva a pensar na semelhança com a "engrenagem" de uma linha de montagem. O ritmo é acelerado, fazendo com que as merendeiras desempenhem várias tarefas ao mesmo tempo, o que, sabe-se, é fonte de insatisfação, desgaste e doenças. A hora de servir o desjejum ( Creches e EMeis) para os alunos é bom exemplo desse quadro: sempre com pressa, colocamos um copo em cada dedo das mãos, de maneira que em cada mão ficam cinco copos, e vamos organizando-os sobre o balcão com o objetivo de ganhar alguns segundos, tendo em vista a distribuição dos biscoitos às crianças, que estão esperando na fila.Isso apenas um dos exemplos, sem mensionarmos a tensão nervosa durante a entrega da merenda, devido a pressa normal das crianças e que costumam passarem dos limites, quando há demora na fila. A necessidade de cumprir nossas atividades gera ansiedade, ainda mais sob pressão de tempo.
Segundo o que observo nas minhas amigas de cruz, (Algumas delas) trabalham pelo menos uma hora a mais, não paga. Tentam com isso diminuir a pressão de tempo cronológico sobre si. O tempo extenso de trabalho é um elemento importante na análise da dinâmica saúde – trabalho de mulheres pobres de países como o Brasil.

Outro aspecto a ser considerado é o fato de que a jornada de trabalho para nós mulheres, diferente da realizada pelos homens, tem dimensão singular, já que nós somos também responsáveis pelo trabalho doméstico que consome algumas horas de nosso tempo. "As relações sociais de sexo implicam ao mesmo tempo numa sobrecarga no trabalho doméstico e numa sobrecarga no trabalho remunerado"


Acrescente-se o tempo dispensado ao transporte do local de residência para o trabalho. Perguntamo-nos como isso é vivido em termos psicossomáticos como trabalhadoras, pois nossas energias vitais estão praticamente todas voltadas para o trabalho: eu já vou para casa pensando no trabalho e já chego pensando no trabalho. Já chego hoje pensando no amanhã.

Estamos todas sobrecarregadas porque os responsáveis,só querem dar nome a escola...Elogios...- Ééééé, aquela escola dá almoço, dá janta, dá tudo... Mas como tal escola ou creche ou emei sai com tudo ao gosto do freguês, ninguém quer nem saber.
No trabalho nas cozinhas das escolas públicas estaduais e municipais, a divisão de tarefas é realizada por comum acordo de merendeiras "boas" (aquelas que mantêm sua capacidade operativa total) e readaptadas (aquelas que estão com restrições médicas). Não existe uma tarefa predeterminada, pormenorizada e permanente para cada merendeira; o que existe é prescrição geral de cardápio, que determina as tarefas a serem executadas.

Nas escolas, as merendeiras ao se mobilizarem para dar conta do trabalho, desenvolvem relações de solidariedade e cooperação entre si. Com o intuito de preservar a atividade de confecção da merenda, estão sempre dispostas a dar uma mão às colegas, mesmo que isso signifique trabalhar sem condições de saúde, como no caso das readaptadas. Segundo Cru (1987), a cooperação só se torna efetiva se os sujeitos têm o desejo de cooperar e a disposição para tanto, já que é impossível prescrevê-la ou defini-la a priori, dado o fato de ser gerada nos campos da ética e da confiança. De acordo com nossas observações, entendemos que se constituem coletivos de trabalho entre a merendeiras nas escolas. Essas profissionais mobilizam-se e efetuam engendramentos que, apesar das inúmeras dificuldades, tais como o número reduzido de funcionárias na cozinha, o excesso de trabalho etc., viabilizam o serviço cotidiano de alimentação nas escolas. No entanto, se, por um lado, sua engenhosidade garante a realização do trabalho, a par das dificuldades, por outro, determina que elas paguem um preço muito alto, na medida em que essa realização acaba afetando a saúde de muitas delas, em curto espaço de vida laboral.
A dinâmica do processo de trabalho na cozinha, em face das exigências da produção e da ausência de uma luta organizada sistemática, não dá margem de manobra para que sejam elaborados modos operatórios adequados para proteger a saúde. Ali a carga de trabalho é muito grande, assim como a pressão de tempo. Em cada cozinha encontramos um relógio fixado à parede, bem à vista das trabalhadoras, que a todo instante o consultam, sendo visível a tensão em cada uma delas: Todo dia a gente fica num estado de nervo, achando que não vai dar tempo, mas sempre acaba dando certo. Dá certo o produto, para ser consumido, mas vai-se consumindo ao mesmo tempo cada merendeira, cujo desgaste muitas vezes não se recupera. Viram sobra, restos, dejetos.
As cozinhas foram no decorrer do tempo sendo improvisadas nas escolas, à medida que a merenda foi-se metamorfoseando, de lanche rápido, em refeição completa e diversificada, com a utilização de produtos in natura. Sua dimensão espacial é bastante heterogênea, indo de minúsculas até grandes e espaçosas. Muitas vezes são insalubres, quentes, com pouca iluminação, fruto da improvisação, do jeitinho. Não tendo captação de ar, são portanto, mal ventiladas, e invariavelmente seus equipamentos necessitam de manutenção. Um desrespeito às profissionais que ali desenvolvem com nobreza seu ofício, imprescindível no contexto da escola no Brasil.


Nesse dia da merendeira, quero deixar registrado, que somos mais que mãos estendidas, prontas a servir, somos seres humanos com todas as fragilidades comuns a todos os seres humanos e muitas vezes, mais humanas que os responsáveis pelas crianças as quais servimos, merecemos respeito e gratidão por fazermos mais do que nossa obrigação...Amamos de graça o filho que nos confiam por uma boa parcela do dia. Independente das mazelas que trazem de casa, da agressividade comum a educação moderna na maioria dos lares,condição física, financeira, credo, cor,ideologias, religião e tantos outros pequenos detalhes de que se faz o ser humano civilizado ou...Quase.






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